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Desde que a Organização Mundial da Saúde (OMS) reconheceu a Covid-19 como pandemia, em março de 2020, essa emergência de saúde pública se converteu na principal causa de óbitos no mundo e tornou o seu enfrentamento uma prioridade inquestionável. No Brasil, já são quase 8,3 milhões de casos confirmados e mais de 206 mil mortes devido à infecção pelo novo coronavírus.
Por meio da parceria da Sociedade Brasileira de Cardiologia com a Associação dos Registradores de Pessoas Naturais do Brasil (Arpen-Brasil), podemos ver que a pandemia fez aumentar no ano passado o número de óbitos gerais, por doenças cardiovasculares, por causas inespecíficas e mortes súbitas em domicílio.
A Covid-19 é a novidade pandêmica e as doenças cardiovasculares são a nossa realidade endêmica, consolidada e irresoluta. Ambas comprometem a saúde em todos os aspectos, individuais e coletivos, físico, psíquico, social e econômico. Em comum, elas ceifam vidas produtivas e promissoras.
E no momento quando há crescimento de novos casos e internações em todo o país, começar a vacinar terá impacto na redução de mortes e internações em um intervalo curto. Apesar do esforço da comunidade científica, ainda não há um tratamento específico para bloquear a replicação viral. Nesse sentido, programas de vacinação são poderosos aliados e, em virtude do notável progresso da ciência, já dispomos desse recurso.
O Brasil firmou parcerias, desde maio de 2020, para pesquisa e desenvolvimento de vacinas contra a Covid-19, que incluem transferência de tecnologia, por intermédio da Fundação Oswaldo Cruz e do Instituto Butantan.
É preciso enfatizar que o país tem uma das mais avançadas legislações sanitárias do mundo e políticas públicas de saúde seguras, eficazes, efetivas e custo-efetivas fazem parte do mínimo existencial de cada brasileiro, devendo ser ofertadas de maneira universal, integral e gratuita. Enquadram-se aqui as campanhas de vacinação, verdadeiro patrimônio consolidado dos brasileiros e orgulho nacional. À vista disso, criar todas as condições para ofertar vacinas em um amplo programa de imunização contra a Covid-19 é um direito de todos e dever do Estado, sob pena do dever constitucional converter-se em promessa inconsequente, frustrando as justas expectativas depositadas no Estado brasileiro.
Agora, acompanhamos atentos a implementação do Plano Nacional de Imunização (PNI) de Operacionalização da Vacina contra a Covid-19, e a SBC, como participante da Câmara Técnica Assessora em Imunização e Doenças Transmissíveis, ligada ao governo federal, opinou sobre o documento.
Propusemos o detalhamento no PNI de quem deve ser considerado prioritário à vacinação na qualidade de cardiopata. Também especificamos as principais cardiopatias que incorrem em risco para as formas graves de Covid-19.
Defendemos a implementação rápida de um amplo programa de vacinação no Brasil, pois vivemos um momento de grave crise sanitária mundial, que requer o compromisso dos governantes e dos profissionais de saúde, bem como a adesão da sociedade civil às recomendações das autoridades competentes.
Dessa forma, a SBC segue em sintonia com seu legado histórico, edificado no exemplo de Carlos Chagas, Dante Pazzanese, entre muitos outros pioneiros, transmitido por mais de sete décadas aos mais de 14 mil cardiologistas, ratificado em seu propósito social, de expandir, divulgar e incentivar, em todos os níveis, o conhecimento, o diagnóstico, a prevenção e o tratamento das doenças cardiovasculares, desenvolvendo campanhas educativas em conjunto com o poder público e com outras entidades e associações; e de divulgar, junto à sociedade civil, os aspectos epidemiológicos dessas enfermidades, esclarecendo sempre quanto às possibilidades de prevenção e tratamento.
Os princípios que nortearam a criação da SBC, em 1943, no meio da Segunda Guerra Mundial, são os mesmos que nos motivam nesta crise sanitária sem precedentes. Por isso, a SBC pugna pelo progresso e difusão da ciência e pela consecução de políticas públicas capazes de melhorar a vida de cada um dos mais de 212 milhões de brasileiros.
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